Vinho e uma arte ele tem que ser respeitado como se respeita a uma mulher tem que ser valorizado como se valoriza uma mulher tem que ser guardado no lugar certo como se guarda uma mulher tem que ser bebido como se beija uma mulher e se você fizer tudo isso e um pouco mais você vai perceber o enorme prazer de ter tido paciência e respeito por esse que e uma experiência única, pois vinhos são como as mulheres se bem tratados se mostram com enorme formosura e elegância.
segunda-feira, 4 de novembro de 2013
Molinos de Rodríguez
Caçador. Telmo Rodríguez procura velhos vinhedos e recupera estilos e uvas perdidos.
Acho que estou sob influência do livro Wine Grapes, com suas 1.368 castas. A coluna de hoje seria a primeira de uma série sobre uvas, eu ia escrever sobre a Moscatel vinificada como vinho seco. Provei dois da Andaluzia, o Botani, de Jorge Ordoñez, e uma versão seca dos Molino Real, de Telmo Rodríguez; ambos de Málaga. Mas gostei tanto do Mountain Blanco que resolvi falar dos vinhos do Telmo.
As uvas brancas da Andaluzia, como Palomino Fino, Pedro Ximénez e a Moscatel de Málaga (que é a mesma Moscatel de Alexandria, espalhada pelo mundo), são mais usadas nos vinhos de Jerez, fortificados. Alguns enólogos atrevidos resolveram testá-la em vinhos de mesa. Nos últimos anos venho provando curiosidades, como o Ovni da Equipo Navazos, que já foi coluna, um Pedro Ximenez branco seco. E o ótimo Navazos-Niepoort, um branco seco de Palomino Fino, nascido de um desafio feito por Jancis Robinson a Dirk Niepoort e Jesus Barquín. A Moscatel na região sempre foi usada para vinhos licorosos, quase gosmentos, com traços oxidativos intensos.
Moscatel é uma uva peculiar que merece um enólogo fora do convencional. Uva falsa simples, confundida com banal, é a vinífera limítrofe, com características perigosamente próximas das uvas de mesa, da família Vitis labrusca. Tem um traço de suco de uva, que os ingleses chamam pela bela palavra “grapey”, algo que traduziria como uvoso. Resulta em vinhos muito aromáticos e para os quais cabe o elogio, caso dos que são feitos em Setúbal.
Sempre acreditei que o musca do seu nome vinha de mosca, já que os romanos a chamavam de Vitis apiane por conta da atração que exercia sobre as abelhas e insetos em geral. Coisas de Plínio, o Velho, o verdadeiro homem que comeu (e bebeu) de tudo lá pelo primeiro século d.C. Nada disso. O musca vem de musc, de almíscar, pelos aromas meio de bicho que desprende. Na perfumaria é descrito como cheiro animálico e aparece, perguntei ao especialista, em inúmeros perfumes. Mas quem quiser senti-lo bem nítido, basta cheirar o Muscs Kublai Khan de Serge Lutens ou o Narciso Rodriguez for Her.
Telmo Rodríguez, até a última vez que o vi, ainda não tinha sede própria, apesar de fazer vinhos na Espanha inteira e fora dela (tem parceria com Niepoort, os Omlets). Viaja pela península, recupera estilos e uvas esquecidos. Foi assim com os três Molinos. Os vinhedos de Moscatel de até 80 anos de idade (o Molino Real) e esse estilo mais frutado, com bebibilidade e deixando a uva se expressar. Pois para poucos vinhos é um elogio dizer: é como morder um bago de uva gelado. Porque o que menos se deseja na bebida é gosto de suco de uva, o que separa o garrafão (feito de Labrusca) e o fino (feito de Vitis vinifera).
O branco de mesa completou a trilogia. O Molino mais intenso, doce e concentrado de uvas velhas, o M. R. intermediário, doce, mas menos concentrado, e agora o Mountain Blanco, encorpado e seco, fazendo lembrar os solenes Marsannes e Rousannes do Rhône sul, com acidez vivaz. Bom com coisas díspares quanto queijo curado e terrine de foie.
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