sábado, 17 de janeiro de 2015

As 7 coisas mais originais que apareceram, em Lisboa e no Porto, em 2015.....

Dá nisto, um ano inteiro a falar do que está acontecer numa cidade. O que mais gostámos de conhecer, o que mais gostámos de provar, o que mais gostámos de visitar e, sobretudo, o que mais gostámos que tenha vindo para ficar. Com eles, Lisboa e Porto ficaram a ganhar e nós também
LISBOA 1 - VILLAGE UNDERGROUND LISBOA
Uma "ilha" de criatividade Aberto em abril, o Village Underground Lisboa (VU), em Alcântara, tornou-se rapidamente num dos polos criativos da cidade. Ao todo são 14 contentores transformados em escritório e dois autocarros um convertido em cafetaria, outro em sala de reuniões, empilhados na extremidade do Museu da Carris, com vista para a Ponte 25 de Abril. E que podem ser alugados em exclusivo ou partilhados, com direito a eletricidade e internet. À frente deste laboratório criativo está Mariana Duarte Silva, que trouxe o modelo de Londres, onde viveu e trabalhou alguns anos como promotora musical (atividade que ainda mantém, na Madame Management). Entre os residentes, há um escritor português que, por estes dias, termina um programa de televisão sobre literatura. Um italiano e uma brasileira que pegaram numa carrinha Piaggo para vender as verdadeiras foccacias italianas, três amigos dinamarqueses que, ainda esta semana, se estrearam a vender café no Jardim da Estrela, entre outros projetos. No armazém de 150 metros quadrados mesmo ali ao lado, disponibilizado pela Carris, dá-se início no ano que aí vem à segunda fase do VU: uma programação cultural com concertos, exposições, teatro, cinema e conferências que quer trazer ainda mais pessoas a esta agradável "ilha" no meio da cidade. Museu da Carris, R. 1.º de Maio, 103, Lisboa T. 91 626 8941. Ter-dom 10h-18h 2 - RIBEIRA DAS NAUS
Um pedaço de rio devolvido à cidade O calor e os turistas em calção e biquíni já lá vão, agora é o sol de inverno que convida ao passeio ou a ficar a contemplar o rio. Removida a camada de esquecimento que cobriu a Ribeira das Naus durante décadas e concluídas as obras de requalificação em julho passado, Lisboa ganhou mais um troço de passeio ribeirinho e não demorou muito para que tanto os lisboetas, como os estrangeiros que visitam a cidade, se apropriassem deste pedaço à beira do Tejo, entre o Cais do Sodré e o bonito Terreiro do Paço. Se é agora uma Ribeira das Naus da qual podemos desfrutar, é também um lugar cheio de história que foi devolvido à cidade, evocada pelos dois relvados em ligeiro declive a lembrar as rampas para os barcos, e pela recuperação da antiga Doca Seca, posta a descoberto, e da Doca da Caldeirinha, destinada à reparação de embarcações, que hoje se atravessa por um passadiço em madeira. 3 - MERCADO DA RIBEIRA
Todos fomos ao mercado É quase impossível falar do que se passou em Lisboa em 2014 e não falar no Mercado da Ribeira. De portas abertas desde maio, nele convivem, agora, as frutas e os legumes do comércio tradicional com as tendências gastronómicas do momento. O projeto, da responsabilidade da revista Time Out, seguiu, à sua maneira, os caminhos que outras infraestruturas do género andavam a trilhar em Lisboa (guiadas por êxitos semelhantes noutras cidades europeias) mas conseguiu fazer mais e melhor. O Mercado da Ribeira é, hoje, uma incubadora de novos sabores e experiências, onde tanto podem degustar-se (em pequenos restaurantes e a preços acessíveis) as criações de chefes como Alexandre Silva, Miguel Castro e Silva ou Marlene Vieira como as propostas de locais de referência de Lisboa Prego da Peixaria (Sea Me), Pizza a Pezzi, Honorato, Santini, Café de São Bento, Pastelaria Aloma. Na Ribeira ainda é possível comprar enchidos e conservas, espreitar a loja d'A Vida Portuguesa, assistir a concertos e, como se isso não bastasse, ainda lá vimos os jogos do Mundial de futebol. Av. 24 de Julho, 49, Lisboa.
4 - CINEMA IDEAL A CONTRACORRENTE O que dizer quando se decide, nos dias que correm, renovar e abrir à exibição comercial uma velha sala de cinema de bairro? Que é iniciativa tão arrojada quanto louvável esta, empreendida por Pedro Borges, responsável pela Midas Filmes, e pela Casa da Imprensa, e que faz da reabertura do Cinema Ideal, na Rua do Loreto, junto ao Largo Camões, um acontecimento. É que se, em Lisboa, existia uma tradição de cinemas de bairro, a verdade é que estes fecharam quase todos e, no centro histórico, há uma "coroa" onde não existe uma única sala de cinema com programação regular. Inaugurado a 28 de agosto, a poucos dias de comemorar 110 anos, o Ideal vai marcando um cartaz que se quer diferente dos demais. Um misto de cinema de circuito comercial, sobretudo português, com cineclube, que cruza públicos diferentes e incentiva à descoberta, complementado pelo Salão Ideal (no primeiro andar do edifício, com entrada pela porta ao lado), para onde se mudou recentemente a livraria Fyodor Books, com boa literatura em segunda mão e o catálogo completo de DVDs da Midas Filmes e da Alambique para venda. No final de janeiro, abrirá finalmente a cafetaria. Com o saudoso cinema King, os lisboetas viram acontecer qualquer coisa de parecido R. do Loreto, 15-17 Lisboa T. 21 099 8295 5 - PHO-PU
As sopas que nos faziam falta Desde a sua abertura, em julho passado, que o restaurante Pho-Pu, no Intendente, já bem perto do Martim Moniz, não tem passado despercebido. O fenómeno não se explica com um chefe de cozinha prestigiado ou com uma decoração aprimorada, mas "apenas" na originalidade da ementa. É o primeiro e o único restaurante a servir sopa vietnamita pho (um tipo de massa produzida com farinha de arroz) por cá. Atenção que quem ali se senta tem de estar preparado para vencer a barreira linguística com as empregadas, de origem chinesa, que mal falam e entendem português. Mas o leitor não se preocupe: na verdade, meia dúzia de palavras são suficientes para que o seu pedido seja atendido. Para a mesa vem uma travessa com um quarto de limão, uma malagueta cortada às fatias, rebentos de soja e folhas de manjericão, hortelã e um molho picante, tudo isto em separado. E eis que a dúvida surge: o que fazer com todos estes ingredientes? Poucos minutos depois, é a vez de uma grande tigela (ideal para duas pessoas partilharem), com o caldo de carne a fumegar. Lá dentro vem a massa de arroz (pode escolher-se massa chinesa, massa de arroz vietnamita ou massa de arroz chinesa), a carne de vaca (em bolinhas e pedaços), os coentros e a cebola. Uma breve explicação responde à interrogação inicial: o conteúdo da travessa deverá ser adicionado à sopa (a ordem e a quantidade fica ao critério de cada um). Só mais um detalhe: Huang Yongjie, o proprietário, é de origem chinesa e nunca pisou solo vietnamita, mas que as phos estão à altura das que se comem no Vietname, lá isso estão. R. do Benformoso, 76, Lisboa T. 21 130 7473, 96 633 0198 6 - MANTEIGARIA
Um pastel de nata que é pastel de nata Quase nunca as melhores ideias são as mais extravagantes. Tãopouco as mais aparatosas. No caso da Manteigaria, que abriu no final de julho, chega a ser ridículo falar-se em "conceito" (para, com alguma irritação, utilizar uma palavra da moda). Tomou o nome e a imagem gráfica da antiga Manteigaria da União que ali existiu e, de há cinco meses para cá, vende pastéis de nata, cafés, chás, sumos e pouco mais. Tudo para comer ao balcão, que lugares sentados é coisa que ali não existe. Os pastéis de nata são muito bons (o segredo, diz Aristides Rocha Vieira, um dos sócios proprietários, está no facto de apenas utilizarem manteiga e nada de margarinas industriais), estão sempre a sair (nos melhores dias, vendem quatro mil) e não têm um preço escandaloso (€1). Além disso, numa cidade cheia de "conceitos" e de "espaços" (para utilizar outra palavra da moda igualmente irritante), a Manteigaria, no fundo, no fundo, é tão simples quanto isto: um balcão, bem localizado, e com bons pastéis de nata. Rua do Loreto, 2 T. 21 347 1492. Seg-dom 8h-24h 7 - ESPAÇO ESPELHO D'ÁGUA
Espírito de explorador Em 2014, o edifício construído, em 1940, para a Exposição do Mundo Português recuperou parte do seu esplendor quando, em setembro, voltou a abrir sob a orientação de um novo "explorador". Mário Almeida, nascido em Angola, mas criado em Lisboa, é o responsável por este novo Espaço Espelho d'Água, multicultural, inspirado nos Descobrimentos e nas culturas por onde os portugueses passaram. Agora, ir ao Espaço Espelho d'Água (projeto do arquiteto Duarte Caldas de Almeida e do ateliê de design Pedrita) é explorar o desenho do artista angolano Yonamine (presente na calçada portuguesa da entrada), o jardim vertical projetado por Michael Hellgreen (que envolve toda a zona da cozinha), o mural restaurado de Sol Hewitt (na parede da sala do restaurante) e os carrinhos de serviço recuperados de um antigo hotel intervencionados por Pedro Campelo. Mais: as exposições, a música ao vivo e a cozinha (com uma ementa baseada em receitas portuguesas, brasileiras, moçambicanas, cabo-verdianas ou são-tomenses). T-Club, paz à tua alma. Av. Brasília, Lisboa T.21 301 0510. Seg-dom 10h-1h PORTO 1 - RUA DAS FLORES
Uma rua devolvida às pessoa Bandeira do executivo de Rui Rio, o requalificado eixo Mouzinho da Silveira -Flores foi concluído já no mandato de Rui Moreira. Se na primeira artéria se fez a ligação à Rua Sá da Bandeira e disciplinou o estacionamento, nas Flores devolveu-se a cidade às pessoas e ao comércio. Mas não só. Cafés, restaurantes e gelatarias estenderam-se à esplanada à espera de turistas. Portugueses e estrangeiros. Desde junho, no seguimento desta alteração, o movimento e as vivências são outras. Por convocatória do município, cinco artistas fizeram das caixas da EDP objeto de intervenção artística, tornando aquela que é uma das mais antigas ruas do centro histórico no novo centro da arte urbana na cidade. Por um dia, ela fez-se palco, entre o Largo dos Loios e de São Domingos, a Praça das Cardosas e a Estação de São Bento, para acolher a terceira edição de A Festa é Aqui (em setembro). Performances artísticas, música, workshops e mercado urbano fizeram a rua marcar posição como um dos lugares mais animados da cidade, com centenas de pessoas a celebrarem o fim do verão, em ambiente vintage. Para uma volta, dois dedos de conversa na esplanada ou compras, a Rua das Flores já entrou no roteiro da cidade. 2 - ARTE URBANA
O Porto é uma tela O ano de 2014 vai ficar marcado a tinta. A figura de D. Quixote de La Mancha, acompanhado pelo inseparável e fiel escudeiro Sancho Pança, desenhada e pintada por três artistas do Coletivo RU+A, deixou de ser símbolo de uma utopia para se tornar um caso bem real. Um ano depois do licenciamento do primeiro mural legal da cidade, no cruzamento entre as ruas de Diogo Brandão e Miguel Bombarda, o Porto vive agora tempos menos cinzentos. A honra de abrir o caminho para uma liberdade nunca antes vista na arte urbana coube a Mesk, Fedor e Mots, os autores da pintura, mas o que se seguiu foi uma explosão de criatividade e cor. Hoje são vários os edifícios e as paredes que a autarquia permitiu transformar em tela gigante, como o parque de estacionamento da estação de metro da Trindade, assinado por Mr. Dheo e Hazul Luzah, dois dos mais conhecidos graffiters nacionais. Entre os vários momentos altos do ano, esteve, também, a exposição de dezenas de artistas no edifício AXA, que se estendeu a outras ruas da cidade (incluindo a Avenida dos Aliados, com as velhinhas, e cada vez menos usadas, cabinas telefónicas a ganharem nova e colorida roupagem), e o festival Push Porto, realizado pela organização cultural CIRCUS e que contou com workshops, palestras, conferências e exposições de pinturas do melhor que a cidade tem para oferecer. 3 - HOUVE LIVROS NO JARDIM
Literatura Sob o tema Liberdade e Futuro, a Feira do Livro do Porto foi organizada, pela primeira vez em 80 anos, pela Câmara Municipal do Porto, reunindo 107 stands. "Esta nova edição marca a abertura de um novo ciclo, que transformou a tradicional feira do livro num acontecimento que junta cultura, animação, lazer e gastronomia", disse Rui Moreira. O diferendo com a Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL) não impediu que o recinto os jardins do Palácio de Cristal esgotasse a lotação. Houve debates, ciclos de cinema, exposições, programação infantil, espetáculos de spoken word e animação de rua, sempre à volta dos livros, transformando a feira numa espécie de festival literário. O balanço final foi positivo, com mais de 200 mil visitantes e vendas superiores às das edições anteriores. Ainda que com alguns ajustes, o modelo de organização deverá manter-se no futuro. Em 2015, a Feira terá como tema a Felicidade e irá homenagear a Agustina Bessa-Luís. Jardins do Palácio de Cristal 4 - RIVOLI
E dançou! A sala de espetáculos foi "devolvida" ao Porto depois de anos sem produção própria e o público respondeu muito bem aos espetáculos apresentados neste último trimestre (os preços acessíveis do início ajudaram), no programa O Rivoli já Dança!. O nome traduzia a grande aposta na dança e nas artes do corpo, que na última década estiveram mais afastadas da cidade. "Este palco será o do desassossego", afirmou Paulo Cunha e Silva, o vereador da cultura da equipa de Rui Moreira. Começou em setembro, com uma criação de Anne Teresa De Keersmaeker, Mozart Concert Arias, interpretada pela Companhia Nacional de Bailado. Mas também passaram pelo palco do Rivoli as coreografias de Marcelo Evelin, Victor Hugo Pontes, Olga Roriz, Paulo Ribeiro, entre muitas outras, além das músicas de Sérgio Godinho e dos Dead Combo, as conferências do Fórum do Futuro e as sessões do novo festival de cinema documental Porto/ Post/Doc. Propostas entre o popular e o cosmopolita, para não alienar públicos. Em janeiro, será a vez de Tiago Guedes, o diretor artístico escolhido por concurso, revelar as linhas da sua programação. Teatro Municipal Rivoli, Pç. D. João I T. 22 339 2201 5 - GALERIAS LUMIÈRE
Um centro comercial "alternativo" O antigo centro comercial dos anos 80, onde muitos portuenses se recordam de ter assistido aos primeiros filmes, reabriu no último verão. As lojas, dotadas ao abandono durante anos, viram nascer novos inquilinos. Na sua maioria, jovens com sangue novo, vontade de contribuir para a revitalização da Baixa do Porto e de ressuscitar o "velhinho" centro comercial, "encaixado" entre as ruas José Falcão e das Oliveiras. Há agora mais de uma dezena de projetos de comércio e de restauração a funcionar (alguns em versão temporária, de porta aberta até meados de janeiro, como O Respigador e a Respigadora e o Porto Brands). À resistente e antiga livraria Poetria, juntaram-se lojas de cerâmica, de artigos e produtos para bebés e crianças, mercearias (uma luso italiana e outra japonesa) e vários projetos gastronómicos de sanduíches, crepes, croissants e gelados. Em breve, surgirá ainda uma loja de sapatilhas. Nas novas Galerias Lumière, não falta, sequer, um engraxador à moda antiga. Inês Magalhães, que esteve na génese da revitalização, acredita que "as bases estão lançadas". Agora, só falta que a cidade as agarre com unhas e dentes. R. José Falcão, 157 e R. das Oliveiras,72, Porto 6 - CASA DE CHÁ DA BOA NOVA
O regresso aguardado A "menina dos olhos" de Siza Vieira, uma das obras mais conhecidas do arquiteto português, projetada nos anos 50, reabriu, renovada, em julho. O monumento nacional, situado junto ao mar, em Leça da Palmeira, esteve dotado ao abandono durante longos meses. E este ano, tornou-se não só um exemplo de arquitetura, mas também da gastronomia. Ao chefe Rui Paula foi entregue a concessão do restaurante, onde, com o Atlântico aos pés, pode degustar cozinha de autor como lula gigante dos Açores, foie gras com marmelo ou pintada e a sua canja. Se agora quiser visitar a Casa de Chá da Boa Nova, terá de reservar antecipadamente através da Casa da Arquitetura, entidade que gere o monumento. As visitas individuais decorrem às quartas e sábados (10h e 16h) e custam 6 euros. Desde agosto que 750 pessoas visitaram a obra de Siza, a grande maioria estrangeiros (78%), oriundos da Noruega, Suíça, EUA, Itália, Austrália, Reino Unido, França e Áustria. Leça da Palmeira, Matosinhos 7 - CANTINHO DO AVILLEZ
E o chefe chegou ao Porto É um dos lugares mais movimentados do centro histórico do Porto. Um recanto cosmopolita onde José Avillez, o único chefe português com duas estrelas Michelin, sente a simpatia, o carinho e o saber receber da cidade. "É a maior surpresa", confidencia. Aberto desde agosto, o Cantinho, de versão mais apurada, mantém a ideia "de cozinha simples, mas sofisticada", para servir uma "experiência inesquecível". Por cá, admite ter encontrado "hábitos e gostos diferentes", a justificar "a ligação da carta à cidade". Às portuguesinhas e à alheira crocante vai juntar "uma espécie de francesinha", no primeiro trimestre de 2015. Certo é que o prato mais pedido continuam a ser as "vieiras com risoto de açafrão". "Ao contrário do que diziam, as pessoas gostam do que é diferente", comenta. A carta sofreu apenas pequenos acertos e, agora, tem sete pratos fixos ao almoço. Para quem não gosta de ficar à porta, o melhor mesmo é reservar no dia anterior durante a semana e uns dias antes no fim de semana.

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