De todos os países históricos produtores de vinho, Portugal é o mais negligenciado. Outros países que há 25 anos eram pouco reconhecidos por sua produção passaram a fazer parte da economia globalizada do vinho: Grécia, Áustria, uma Hungria revigorada. França e Itália sempre foram destaque, mas regiões menos conhecidas dentro de ambos os países têm sido elogiadas. O mesmo acontece com a Espanha. Mas Portugal? O vinho do Porto sempre vai ter o seu nicho, assim com o vinho da Madeira. Porém, quando o assunto são os vinhos regulares, Portugal continua a ser amplamente negligenciado, e muitas vezes de maneira injusta. De certa forma, isso acontece porque os portugueses costumam se recusar a dar destaque a uvas internacionais populares, como cabernet sauvignon, chardonnay, merlot e sauvignon blanc, priorizando suas inumeráveis ofertas nativas. Essa internacionalização, infelizmente, foi outrora uma fórmula de eficácia comprovada para atrair atenção em escala mundial. Mas o foco passou a ser aquilo que é distintamente local, e, felizmente, os entusiastas americanos do vinho podem ter passado do ponto de caírem nas graças de um cabernet de 100 pontos de Portugal. Pode ser também que a língua portuguesa coloque alguns obstáculos para os americanos, que podem compreender intuitivamente que, digamos, o "bianco" da Itália e o "blanco" da Espanha são os vinhos brancos, mas talvez não consigam dar o mesmo salto linguístico quando confrontados com "branco". Frequentemente, quem é confrontado com tais termos não familiares costuma continuar a buscar algo mais reconhecível. Entre os vinhos portugueses, duas exceções cativaram a imaginação dos americanos, mas são casos especializados. O primeiro é o Vinho Verde, o vinho branco vibrante de preço acessível do noroeste de Portugal, que parece ter adentrado o zeitgeist associado a um clima quente, vendendo muito bem nos Estados Unidos nos últimos anos. Mas ele não passa de um prazer inócuo, visto geralmente como uma bebida refrescante de verão. O segundo é o vinho de Colares, um dos mais fascinantes do mundo, mas produzido apenas em quantidades mínimas. As videiras crescem em solos arenosos e, portanto, são imunes à filoxera, o voraz afídeo que ataca as raízes das videiras europeias clássicas, fazendo com que quase todas tenham que ser enxertadas em porta-enxertos americanos. Em vez disso, as videiras dos vinhos de Colares crescem sobre suas próprias raízes. São vinhos verdadeiramente maravilhosos, elegantes, mas intensos, com potencial para envelhecer por décadas. Mas as vinhas têm travado uma difícil batalha pela terra com os bairros residenciais dos arredores de Lisboa, e em breve podem se extinguir. Os especialistas em vinho da minha equipe de degustação não ignoram Portugal. Fazemos incursões regulares, ainda que não muito frequentes, pelos seus vinhos tintos - sendo que a mais recente foi pelos tintos do Douro, a histórica região portuária, em 2012. Mas nunca tinha me ocorrido fazer uma degustação de vinhos brancos portugueses. Antes de eu pensar realmente a respeito, essa degustação não me parecia tão interessante. Mudei de ideia depois que Matt Kramer, colunista do Wine Spectator, rasgou elogios a alguns vinhos brancos que tinha encontrado em Portugal. Um deles, escreveu Kramer, poderia ser facilmente confundido com um Chassagne-Montrachet caso ele o tivesse provado em uma degustação cega; um erro, ressaltou ele, que teria sido "quase que um insulto ao caráter de um vinho". Já tinha ouvido algumas outras pessoas louvando a qualidade dos vinhos brancos portugueses recentemente, e concluí que valeria a pena investigá-los. Assim, convoquei minha equipe, que se reuniu para provar 20 vinhos de safras recentes, na esperança de fazer bons achados entre os rótulos. Na degustação, Florence Fabricant e eu fomos acompanhados por Pascaline Lepeltier, diretor de vinhos no Rouge Tomate e mestre sommelier recém-formado que viajou recentemente a Portugal, e Todd Wernstrom, distribuidor de vinhos cuja empresa, a Ice Bucket Selections, não trabalha com vinhos portugueses. Não posso dizer que chegamos a sentir a emoção de uma descoberta, embora eu tenha achado os vinhos agradáveis e intrigantes. Como acontece frequentemente no caso dos vinhos tintos portugueses, todos os brancos foram feitos a partir de uvas portuguesas nativas, mas nenhum nos pareceu especialmente distinto ou único, como o carricante do Monte Etna ou o furmint da Hungria. Um bom número dos vinhos de nossa lista foi feito à moda moderna, fermentado em tanques de aço e engarrafados ainda jovens para preservar o frescor e os aromas. Nossa primeira garrafa, um vinho Luís Pato, da região de Beira Atlântico, de 2012, tinha seguido esse estilo. Produzido com a Maria Gomes, a mais comum uva branca de Portugal, também conhecida como Fernão Pires, ele estava delicioso, acidulado, picante, herbáceo, bom para se beber quando ainda é cedo. Custando apenas 13 dólares, foi o vinho de melhor relação custo/benefício de nossa degustação. Vai muito bem como companheiro neste verão aqui nos Estados Unidos. Outros vinhos passaram algum tempo em barris e se prestam mais facilmente ao envelhecimento, como a nossa terceira garrafa, do branco da Quinta de Foz de Arouce, de 2012, que descobri ter sido o vinho que chamou a atenção de Kramer. O que ele havia provado, porém, era o de 2010, com dois anos a mais de envelhecimento, o que sugeriu a comparação com os vinhos da Borgonha. O vinho da safra de 2012, feito exclusivamente com a uva cerceal (que não têm relação com a sercial, ingrediente dos vinhos Madeira), nos pareceu vivaz, frutado, complexo, com sabor herbáceo e o tipo de textura convidativa proporcionada pelo processo de envelhecimento em barris – principalmente barris antigos, que não conferem sabores. Fiquei ansioso para beber esse vinho daqui a alguns poucos anos. Tendo custado 37 dólares, ele também foi um dos mais caros da degustação. Outras garrafas dignas de nota foram a segunda, do rico e carnudo Quinta do Sagrado do Douro de 2012, uma mistura de quatro uvas fermentadas em tanques de aço; a quarta, do Vadio, de Bairrada, na região próxima ao litoral Atlântico, de 2012, um vinho pouco rústico, agradavelmente amargo; e a quinta, de um refrescante Casa de Mouraz do Dão, do interior de Bairrada, também de 2012, feito exclusivamente da uva encruzado. Eu não me atreveria a oferecer conclusões definitivas após essa degustação, já que esses vinhos certamente nos convidam a continuar pesquisando. Não tenho dúvidas de que vão motivar mergulhos mais profundos, especialmente nas regiões mais promissoras para os vinhos brancos, que parecem ser as áreas costeiras de Bairrada e Beira Atlântico, além do Douro. Posso dizer que se você gosta dos mais conhecidos vinhos brancos italianos, muitas das garrafas menos caras dessa degustação vão lhe proporcionar uma sensação semelhante de fresco seco e frutado. Se você gosta de tipos mais complexos de vinho, como, atrevo-me a dizer, o Borgonha branco, uma garrafa de vinho envelhecido em barril, como o Foz de Arouce, pode se mostrar intrigante. É justo dizer que a indústria portuguesa do vinho está passando por uma transição, buscando se concentrar em vinhos que podem ser comercializados em todo o mundo. O que isso significa para os vinhos brancos do país? Ainda vamos descobrir. Resumo da degustação Luís Pato Beira Atlântico Maria Gomes 2012 (Melhor relação qualidade/preço) 2 1/2 estrelas Sabores cítricos acidulados, com notas herbáceas e picantes e uma textura convidativa. 13 dólares. Quinta do Sagrado Douro 2012 2 1/2 estrelas Rico e carnudo, com aromas de damasco, pêssego e melão. 16 dólares. Quinta de Foz de Arouce Vinho Regional Beiras Branco 2012 2 1/2 estrelas Vivaz e texturizado, com sabores prolongados de melão, frutas cítricas e ervas. 37 dólares. Vadio Bairrada 2012 2 1/2 estrelas Agradavelmente rústico, com sabores prolongados de frutas cítricas, ervas e frutas tropicais com um leve amargor. 17 dólares. Casa de Mouraz Dao Encruzado 2012 2 1/2 estrelas Refrescante e pouco complexo, com sabores cítricos picantes. 17 dólares. Niepoort Douro Redoma 2012 2 estrelas Não é particularmente aromático, mas é suculento, substancioso e tem uma textura agradável. 28 dólares. Quinta do Perdigao Dão Encruzado 2011 2 estrelas Acidulado, com um amargor intrigante. 20 dólares. Álvaro Castro Dão Encruzado DAC 2011 2 estrelas Equilibrado, com sabores de frutas tropicais. 25 dólares. Duorum Douro Tons 2012 2 estrelas Leve, agradável e refrescante. 13 dólares. Quinta do Passadouro Douro Passa 2011 2 estrelas Aromas e sabores de ervas, especiarias e melão. 15 dólares. O que significam as estrelas: As classificações, de até quatro estrelas, refletem a reação da equipe aos vinhos, que foram degustados com os nomes e as datas ocultos. Os vinhos representam uma seleção que costuma estar disponível em boas lojas do ramo e restaurantes, bem como na internet. Os preços são os praticados por lojas da região de Nova York. Coordenador da degustação: Bernard Kirsch
Vinho e uma arte ele tem que ser respeitado como se respeita a uma mulher tem que ser valorizado como se valoriza uma mulher tem que ser guardado no lugar certo como se guarda uma mulher tem que ser bebido como se beija uma mulher e se você fizer tudo isso e um pouco mais você vai perceber o enorme prazer de ter tido paciência e respeito por esse que e uma experiência única, pois vinhos são como as mulheres se bem tratados se mostram com enorme formosura e elegância.
terça-feira, 16 de setembro de 2014
Degustando vinhos brancos portugueses.....
Dos países históricos produtores de vinho, Portugal é o mais negligenciado
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