sexta-feira, 20 de março de 2015

Vale do Loire......

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O Loire, na França, é famoso por seus châteaux e pela produção de vinhos (Foto: divulgação/wikipedia.org)
O Vale do Loire é pura história. Sua beleza natural é de tirar o fôlego e seus fabulosos châteaux são verdadeiras obras de arte criadas pelo homem
Não é a toa que é considerado patrimônio mundial pela Unesco e o 4º destino mais visitado na França. Para completar, o Loire é um daqueles poucos lugares especiais que produzem diferentes estilos de vinho sem perder classe e qualidade. Além da diversidade, não podemos esquecer da incrível afinidade com a gastronomia e dos preços que - normalmente - são justos.
É possível encontrar qualidade em grande parte das 70 AOCs que garantem diversas opções estilo.
Curiosidades sobre o Loire Alguns fatos interessantes sobre a região:
Alguns dos melhores e mais longevos brancos do mundo estão lá; Os tintos à base de Cabernet Franc merecem destaque; Vinhos de sobremesa soberbos, que algumas vezes batem de frente com os melhores Sauternes, são disputados por sua raridade e extrema qualidade; É a segunda região mais importante na produção de espumantes, depois de Champagne. O Loire e sua tradição nobre Sua história é longa e conta tanto com épocas de sucesso quanto de crise. Pesquisadores apontam que os primeiros vinhedos de Pays Nantais (extremo oeste do Loire) foram plantados há mais de 2000 anos pelos Romanos. E nos séculos seguintes, foram os monges que deixaram sua marca na história ao se encarregarem do mapeamento das melhores parcelas de terra para o cultivo de uvas e da popularização da cultura do vinho.
O Vale do Loire fica localizado na região central da França (Foto: divulgação/cellartours.com)
Durante a história, dois fatores naturais foram os maiores determinantes no sucesso da região: sua beleza natural e o Rio do Loire.
A beleza do lugar atraiu a nobreza e a realeza, que, durante os séculos 15, 16 e 17, construíram seus imponentes castelos e châteaux que serviam como retiros de verão. O amor dos reis pelo Loire permanece em seu patrimônio arquitetônico, que são peças de arte de outra Era e que continuam a reinar em harmonia com a incrível beleza natural do lugar até hoje. Por curiosidade, o gênio Leonardo da Vinci foi enterrado no Castelo de Amboise, um dos monumentos de arte centenários da região.
Já o Rio do Loire, que dá nome a região e é o mais longo da França, facilitou a comercialização dos vinhos da região fora do país pelo fácil acesso às rotas internacionais. Primeiro com os ingleses, que estabeleceram fortes laços quando o Conde de Anjou casou-se com Eleanor de Aquitaine. A relação garantiu que durante muitos anos os vinhos do Loire fossem servidos aos reis da Inglaterra. E mais tarde com os holandeses, que compravam e destilavam os vinhos da região feitos a partir das uvas brancas Muscadet e Folle Blanche (hoje ainda muito usada em Cognac e Armagnac) para produzir ‘brandewijn’, um brandy muito famoso na época.
O Rio Loire, que dá nome à região, é o maior da França (Foto: divulgação/grayline.com)
O rio também exerce mais um papel fundamental: é influenciador direto no tempo (clima). A água, com sua capacidade de armazenar calor, ajuda a aumentar a temperatura durante o inverno nos vinhedos que encontram-se nas suas proximidades, podendo variar em até 5ºC e garantir sucesso no amadurecimento. Perto do rio, inúmeros mesoclimas (clima de uma determinada sub-região ou mesmo um vinhedo específico) se formam e garantem a diversidade de uvas a serem cultivadas.
Os altos e baixo do Loire Com todas suas qualidades a região tinha tudo para triunfar, porém uma série de épocas conturbadas abalou a reputação dos seus vinhos. A Revolução Francesa; a construção da estrada nacional francesa que facilitou o transporte de outras regiões para Paris; e a praga da Filoxera - o golpe final e devastador. O Loire foi uma das últimas regiões francesas a sofrer com a peste, e também uma das últimas a conseguir se reerguer.
Uma série de épocas conturbadas abalou a reputação dos vinhos do Loire (Foto: divulgação/sfexaminer.com)
Depois de altos e baixos, a região volta aos poucos à popularidade novamente. A nova demanda por vinhos mais leves criada por consumidores europeus se alinha a proposta da região, que entrega vinhos mais puros e elegantes, com menos álcool e menos uso de madeira.
Entendendo os grandes vinhos do Loire A diversificação de estilos resulta da extensão do Rio do Loire, que é enorme e percorre mais de 1000 km. As regiões produtoras são categorizadas pelo clima e são dividas em três:
Baixo Loire (Pays Nantais), o mais perto e influenciado pelo oceano Atântico, seu clima é de influência marítima; Loire Central (Anjou, Saumur e Touraine) clima em transição de marítimo para continental; Alto Loire (Sancerre, Pouilly-Fumé, Moneton-Salon...) que é contemplado pelo clima continental.
O Vale do Loire também é conhecido pelo tratamento minimalista em seus vinhos, em muitos casos evitando ao máximo o uso de agrotóxicos, uso de madeira, técnicas de correção e modernidades. Isso tudo para permitir ao máximo a expressão do terroir local e a pureza das suas frutas.
O Vale do Loire é divido em 3 grandes regiões produtoras de vinhos (Foto: divulgação/dolcevitaspinelli.com)
Apesar de grande parte das suas sub-regiões serem classificadas AOCs, com 65% da produção dentro da categoria, também temos os vinhos IGP e Vins Sans IG que contam com menos restrições de leis e podem produzir mais livremente seus vinhos. Dentro da hierarquia essas classificações são inferiores, mas nem sempre isso significa qualidade menor. Um produtor pode se recusar a cair nas rígidas regras da AOC para ter mais liberdade na sua criação e oferecer um vinho incrível. Outra situação interessante é que somente depois de anos e anos de luta com a justiça francesa é que duas regiões produtoras de vinhos doces conseguiram elevar seu status para Grand Cru e Premier cru, são Quarts du Chaume e Chaume, respectivamente.
Aqui os brancos reinam. É a maior produção de vinhos brancos da França e sua latitude - no extremo para a produção - garante as baixas temperaturas que preservam os aromas mais delicados, acidez refrescante e teor alcoólico baixo nos seus vinhos - tanto brancos quanto tintos. Essa combinação harmônica que resulta em grande afinidade gastronômica
Os vinhos brancos se destacam no Loire (Foto: divulgação/loirevalleywinetour.wordpress.com)
Especialidades do Vale do Loire
Chenin Blanc
Versatilidade de estilos. Os vinhos da Chenin Blanc são incríveis em qualquer um dos formatos: espumantes, secos ou doces.
Muitos produtores adotam a filosofia da criação desses vinhos com o mínimo de intervenção possível, e que o terroir se expresse da forma mais pura e clara. Nada de madeira, agrotóxicos, aditivos ou sofisticações. Um dos maiores exemplos está em Savennières, mas especificadamente na monópole Coulée-de-Serrant de Nicolas Joly, onde é criado um dos exemplares mais únicos da casta. Joly é um dos propagadores do biodinamismo, técnica de Rudolf Steiner, que trata dos vinhedos com apelo orgânico e místico ao mesmo tempo. Assim a Chenin Blanc se expressa de forma ainda mais pura e natural (o resultado é fantástico!).
Versões doces (Demi-sec, Mouelleux e Doux)
Podem facilmente durar mais de 50 anos e em alguns casos chegam a completar o centenário de vida. Infelizmente esses vinhos não conquistam clientes fiéis devido a inconstância de suas safras. Em anos muito frios, se torna quase impossível encontra-los. Mas nos anos mais apropriados, principalmente quando o fungo Botrytis cinerea ataca com precisão... O vinho é simplesmente soberbo! E facilmente rivalizam com os melhores exemplares de Sauternes. Regiões de destaque: Bonnezeaux, Chaume (Premier Cru), Quarts de Chaume (Grand Cru), Coteaux du Layon, Vouvray. Harmonização: Foie gras, panacota, pudim, queijo azul.
Vinhos secos (Sec)
Duas regiões se destacam: Vouvray e Savennières. O que as diferencia é a variedade dos solos. Vouvray uma das regiões de maior prestígio, apresenta um solo diferenciado conhecido como tuffeau produz vinhos de acidez vibrante e extrema elegância.
Savennières é pequena e seus vinhos são raros. Os solos vulcânicos compostos basicamente de pedra com xisto garantem nervo e finesse ao mesmo tempo. Encontramos aromas de flores, mel, pêra e bastante mineralidade. A acidez alta age como preservativo natural e muitos acreditam que os brancos mais longevos da frança, consequentemente do mundo, estão aqui. Em 2011, duas regiões dentro de Savennières se tornaram independentes por suas condições climáticas diferenciadas, La Roche aux Moines e Coulée de Serrant (AOC inteiramente propriedade de Joly). Harmonização: Vieras, peixes, pratos leves com frango.
Os Crémants estão entre os melhores espumantes do mundo (Foto: divulgação/domaine-du-landreau.com)
Espumantes (Pétillants, Mousseux, Crémants)
Em ordem crescente baseada em seu nível de pressão (atmosferas) encontramos Pétillants, Mousseux, Crémants. Todas feitas a partir do método tradicional - segunda fermentação em garrafa. As Crémants são consideradas por muitos os grandes rivais de Champagne e por anos e anos durante o século 19 dividiram o prestígio dos franceses. Normalmente feitas a partir de Chenin Blanc, hoje o uso de Chardonnay cresce cada vez mais, esses espumantes precisam de no mínimo 12 meses de contato com os sedimentos e são feitas a partir do método tradicional - segunda fermentação em garrafa. Regiões de destaque: Vouvray Mousseux e Vouvrau Pétillant, Crémant de Loire, Saumur Mousseux.
Sauvignon Blanc
Ao estilo Loire, a Sauvignon Blanc é normalmente fermentada em tanques de inox e engarrafada o mais rápido possível sem passar por madeira. Vinhos frescos com notas vegetais e que com frequência encontramos o famoso descritor ‘urina de gato’ neles. Pouilly-Fumé: Solos de Silex registram uma característica muito peculiar de fumaça nos vinhos. E solos de cascalho resultam em Sauvignons mais cremosos e com mais fruta.
Sancerre: Brancos seríssimos com acidez vibrante, mineralidade e notas de grama recém cortada. Também produz rosés e tintos, com destaque para tintos à base de Pinot Noir.
Harmonização: Queijo de cabra, sushi, sashimi, ensopados, aperitivos de lagosta ou camarão.
Degustação de alguns vinhos do Vale Loire ainda sem rótulos (Foto: divulgação/butterfield.com)
Muscadet
Também conhecida como Melon de Bourgogne, é uma uva que por alguns anos caiu no esquecimento pois antigamente era associada a vinhos neutros e sem personalidade. Hoje está de volta e oferece vinhos prazerosos que podem ser consumidos ainda jovens. Com intuito de aumentar a complexidade e melhorar a textura dos vinhos, os produtores utilizam uma técnica chamada “sur lie”, que consiste em deixar o vinho em contato com os sedimentos após a fermentação, processo que dura meses. Ao oeste do Loire está a sub-região mais conhecida pelo cultivo da casta Muscadet-Sèvre et Maine, nome que deriva dos dois rios que passam pela região. Os melhores exemplos são leves, refrescantes e com um toque de salinidade. É importante ressaltar que não possuí nenhuma relação com a uva muscat (moscatel ou moscato, o nome varia com a região). Harmonização: ostras, peixes leves, perfeita como aperitivo.
Cabernet Franc
Uma prova de que vinhos de corpo leve não deixam nada a desejar. Intensidade, complexidade, finesse e esplêndido perfume são características dessa casta que constantemente é menosprezada. Muitos não se dão conta mas é ela que reina junto da Merlot em St-Emilion e Pomerol. E acima de tudo, predomina nos solos do majestoso Château Cheval Blanc, um dos mais importantes vinhos da história e que faz parte do grupo seleto dos Premier Grand Cru Classé "A" da margem direita do Dordogne. Mas é no Loire que a Cabernet Franc prospera, o clima frio faz com que os aromas se desenvolvam lentamente e permaneçam na uva até o final criando vinhos aromáticos, de acidez refrescante, baixo álcool e corpo elegante. O toque herbáceo é um dos clássicos indicadores da variedade. Vinhos perfeitos para a mesa! Regiões de destaque: Estilos mais sérios em Chinon e Bourgueil, mais leves em St-Nicolas de Bourgueil. Harmonização: carré de cordeiro, filé de suíno, pato e carnes em geral.
O Vale do Loire também produz ótimos vinhos tintos e rosés (Foto: divulgação/aussieinfrance.com)
Rosés
Nos arredores da cidade Angers, Anjou é responsável por aproximadamente metade da produção dos Rosés do Loire. Normalmente são cortes entre Cabernet Franc e Cabernet Sauvignon, mas podem estar presentes também: Grolleau, Gamay, Pineau d’Aunis, Malbec, Pinot Gris e Pinot Noir. Regiões que se destacam: Cabernet d’Anjou e Rosé d’Anjou produzem Rosés semi-secos com toque de açúcar residual. Já Rosé de Loire produz Rosés sempre secos
. Harmonização: Finger food, risotto de camarão, paella. Vídeo sobre os castelos no Vale do Loire
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