segunda-feira, 2 de maio de 2016

história dos vinhos brasileiros..

Descendente de uma família de vinhateiros estabelecida há cinco séculos em Montlouis-sur-Loire, na França, o advogado Rogerio Dardeau não poderia ter seguido um caminho diferente. Há 40 anos, ele se aventura no universo dos vinhos e, decidiu, em seu quarto livro “Vinho fino brasileiro” (Editora Mauad X) percorrer trilhas pelo país e criar um guia dos produtores de vinhos nacionais.
— Tenho visitado vinícolas há muitos anos. E costumo organizar degustações às cegas. Quando me perguntam de onde é o vinho e respondo que é mineiro, não acreditam. Digo que foi elaborado em Minas Gerais, na Serra da Mantiqueira. Aqui pertinho. É genial isso — afirma Dardeau.
Dardeau se debruçou sobre a história dos produtores no Brasil — que remonta ao século XVI, com Brás Cubas, na capitania de São Vicente. Os dois grandes marcos, porém, são a imigração italiana no século XIX em direção à atual região de Bento Gonçalves e a decisão de os produtores de uva fabricarem seus vinhos, já nos anos 1980.
— Os italianos e depois os italodescendentes eram vinicultores para fazer a própria bebida. Mas o que faziam mesmo era produzir uva e vender uva — conta Dardeau, e continua. — Houve uma época em que vieram vinícolas de outros países para o Brasil. Ficou uma cultura de a vinícola comprar uvas de pequenos produtores e fazer vinho.
Até que nos anos 80, houve uma enorme virada e muitos desses produtores que eram grandes fecharam as suas portas, como a Maison Forrestier e a brasileira Cia. Vinícola Rio Grandense. Os plantadores de uvas, que eram minifúndios, perceberam que tinham que elaborar o vinho. Nesse cenário, nasce a Escola de Enologia de Bento Gonçalves.
— Ela é fundamental porque formou a maior parte dos enólogos do país. Boa parte deles fez pós-graduação na Europa.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/ela/gastronomia/rogerio-dardeau-lanca-livro-sobre-historia-dos-vinhos-brasileiros-19195144#ixzz47VMS4vAt © 1996 - 2016. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização.
PRODUÇÕES GRANDES, MÉDIAS E PEQUENINAS
A vinícola da Chandon, uma das grandes nacionais - Divulgação O enófilo classificou as vinícolas brasileiras — das maiores às mais artesanais:
— Nossa vitivinicultura é muito jovem. As pessoas não conhecem. Categorizei os produtores pelo que querem para suas vinícolas, não para dizer se são melhores ou piores. Há os megaprodutores; os intermediários; os pequenos de venda regional; as chamadas butiques, que hoje têm um grande crescimento no Brasil; os autores, que produzem vinhos exclusivíssimos; e a turma do Vale do São Francisco — enumera Dardeau, que também é professor do curso de extensão da Fundação Getúlio Vargas “O negócio do vinho”.
As três maiores vinícolas são a Salton, o Miolo Wine Group e a Aurora. A Casa Valduga também está no grupo, com produção menor e sem intenção de ter o mesmo tipo de distribuição. No mundo dos espumantes, entra aqui a Chandon do Brasil, em Garibaldi, vinculada ao grupo francês LVMH. Para o autor, merecem destaque o Chandon Brut Excellence, o Chandon Demi-sec e o Chandon Passion.
— Um dado interessante é que, desde o ano 2000, temos pelo menos 112 novos produtores, muitos autorais, pequenininhos e muito artesanais.
Dardeau chama a atenção para os vinhos de autor, que estão se firmando no Brasil.
— Reunidos, eles já têm uma produção bem marcante. E são altamente expressivos.
Nessa classificação, o enófilo destaca a Reliquiae Vini, da família Bettú, em Garibaldi, que produz de 2 mil a 5 mil garrafas por ano, dependendo da safra, vendidas diretamente a clientes que os descobrem no Rio Grande do Sul e a restaurantes do eixo Rio-São Paulo.
— Outro exemplo é a Arte da Vinha, do produtor Eduardo Zenker, também de Garibaldi. Ele tem um trabalho criativo. Já a enóloga Marina Santos, da Vinha Unna, de Bento Gonçalves, tem um trabalho belíssimo reunindo produtores locais de uva. Alguns estavam querendo desistir. Ela é completamente voltada para a linha de vinhos naturais, que está crescendo muito no Brasil.
Dardeau avalia que, com a alta do dólar, o vinho brasileiro tem uma grande oportunidade de se firmar no mercado. O olhar enviesado para o produto nacional, para ele, tende a ficar menos frequente.
— O preconceito está diminuindo lentamente. A gente já caracterizou o espumante nacional como de nível impressionante. Mas quem gosta de vinho sabe a diferença entre um excelente espumante, um excelente tinto e um excelente branco. Os processos são muito diferentes.
O autor critica a legislação sobre vinho no Brasil, que considera frágil e muito simplificada, já que trabalha apenas com duas categorias: o de mesa e o fino.
— Ao fazer apenas essa divisão, fica-se com uma variedade muito grande no mundo dos vinhos finos. Reserva e colheita são palavras que não existem no Brasil. Em outros países, há legislação com subcategorias. As especificações formais dão uma referência ao consumidor — analisa.
Para Dardeau, o passar do tempo ajudará também o país a ter mais Denominações de Origem. Hoje, existe apenas a do Vale dos Vinhedos. São 81 quilômetros quadrados de três municípios: Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo do Sul.
— A gente já tem quatro Indicações de Procedência. E a IP é o degrauzinho abaixo. Só para você ter uma ideia, a nossa única DO levou 11 anos antes como IP. É uma observação da regularidade do produto, a confirmação de que aquela região é boa para a casta merlot, que foi a decidida como a principal para o Vale dos Vinhedos. É um aprendizado. Quando se fala de Portugal, Itália e França, o aprendizado tem 500 anos — explica.
Para o escritor, hoje o país já teria um volume de vinhos de bom padrão, mas há um problema de comercialização.
— A grande dificuldade para equação disso é razoavelmente complexa. As vinícolas-butique não conseguiram se organizar para um processo de comercialização mais estruturado. Elas não têm volume, a não ser que se reúnam. Isso pode custar caro, se não for tratado de forma mais objetiva — alerta ele, lembrando que o consumidor gosta de comprar direto na gôndola. — Mas está crescendo no país o e-commerce.
O livro traz ainda uma seção que sugere castas para harmonizar com pratos tipicamente brasileiros, como a combinação do acarajé com os varietais de sauvignon blanc.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/ela/gastronomia/rogerio-dardeau-lanca-livro-sobre-historia-dos-vinhos-brasileiros-19195144#ixzz47VOvQ2Zr © 1996 - 2016. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização.

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