domingo, 27 de janeiro de 2013

A Alma do Vinho (poema de Charles Bauldelaire)

A alma do vinho assim cantava nas garrafas: “Homem, ó deserdado amigo, eu te compus, Nesta prisão de vidro e lacre em que me abafas, Um cântico em que há só fraternidade e luz! “Bem sei quanto custou, na colina incendida, De causticante sol, de suor e de labor, Para fazer minha alma e engendrar minha vida; Mas eu não hei de ser ingrato e corruptor, “Porque eu sinto um prazer imenso quando baixo À goela do homem que já trabalhou demais, E sei peito bastante é doce tumba que acho Mais propícia ao prazer que as adegas glaciais. “Não ouves retirar a domingueira toada E esperanças chalrar em meu seio, febris? Cotovelos na mesa a manga arregaçada, Tu me hás de bendizer e tu serás feliz: “Hei de acender-te da esposa embevecida; A teu filho farei a força e a cor E serei para tão terno atleta da vida Como o oleo e os tendões enrija ao lutador. “Sobre ti tombarei, vegetal ambrosia, Grão precioso que lança o eterno semeador, Para que enfim do nosso amor nasça a poesia Que até Deus subirá como uma rara flor!” Este post foi escrito por: Daniel Perches - que já publicou 1654 posts no Vinhos de Corte.

Nenhum comentário:

Postar um comentário