Vinho e uma arte ele tem que ser respeitado como se respeita a uma mulher tem que ser valorizado como se valoriza uma mulher tem que ser guardado no lugar certo como se guarda uma mulher tem que ser bebido como se beija uma mulher e se você fizer tudo isso e um pouco mais você vai perceber o enorme prazer de ter tido paciência e respeito por esse que e uma experiência única, pois vinhos são como as mulheres se bem tratados se mostram com enorme formosura e elegância.
terça-feira, 29 de janeiro de 2013
Redescobrindo o Piemonte ..
Vinhedos em Barolo com os Alpes de pano de fundo.
Famosa pela produção de vinhos emblemáticos como o Barolo e o Barbaresco, a região do Piemonte apresenta um dos mais ricos patrimônios vitivinícolas da Itália. Com uma área de vinhedos de 70.000 Ha e uma produção anual de aproximadamente 4 milhões de Hectolitros por ano, o Piemonte desponta como a mais importante região italiana para a produção de vinhos de alta qualidade. E não é para menos, hoje essa região ocupa o primeiro lugar da Itália em vinhos protegidos pela mais alta chancela: são 16 DOCG (Denominazione de Origine Controllata e Garantita), e 42 DOC (Denominazione de Origine Controllata). Outro detalhe que impressiona é a elevada fragmentação das propriedades, são mais de 28 mil produtores de vinho! Sem dúvida, isso faz do Piemonte uma das zonas vitivinícolas mais complexas, e ao mesmo tempo, mais fascinantes para se descobrir.
Nebbiolo do vinhedo de Trinitá, em Roero, da Cantina Malvirà.
Nesse território talhado pelo esforço de um povo trabalhador e orgulhoso de suas raízes e costumes, nasceu o vinho Barolo. Mas muito antes da fama, a Nebbiolo, uva que da origem ao Barolo, já era reconhecida por produzir excelentes vinhos. Documentos do ano de 1303, da localidade de Canale, em Roero, já faziam menção a una carrata de bono puro vino nebiolio. Apesar de representar não mais que 5% da produção de vinhos do Piemonte, Barolo e Barbaresco, projetaram mundialmente a imagem do vinho italiano. Isso se deu graças a pioneiros como Giacomo Bologna, Elio Altare e Angelo Gaja. Lembrando que este último, já em 1969, iniciou suas viagens, pesquisas, e implementou o uso de barricas para melhorar a qualidade de seu vinho. A partir dos anos 80, a região vivenciou um salto de qualidade. O controle no rendimento dos vinhedos e a adoção de técnicas modernas na vinificação, com um melhor controle na fermentação malolática da Nebbiolo, mudaram radicalmente a qualidade dos Barolos e Barbarescos.
Matteo Correggia: uso combinado de barricas e grandes cascos de carvalho da Slavônia.
Durante muitos anos, o Barolo, também conhecido como o “Rei dos Vinhos”, era sinônimo de vinho potente, com taninos duros, que geralmente precisavam de mais de 15 anos para se tornarem bebíveis. Porém, isso já é coisa do passado. Hoje, podemos beber excelentes Barolos e Barbarescos relativamente jovens, sem fazer cara feia ou amarrar a lingua. Embora continuem profundos e complexos, os vinhos atuais estão mais acessíveis e macios, e o melhor de tudo, com a tipicidade marcante do terroir. Segundo a opinião de produtores, a disputa entre “tradicionalistas” e “modernistas” também está superada. O uso de longas macerações – podendo alcançar até 30 dias -, e maturação ao velho estilo (apenas em tonéis de 3 mil litros, mais neutros), não é mais uma regra nem mesmo para os tradicionalistas. Por outro lado, o estilo modernista com a implementação de fermentações ultracurtas em altas temperaturas (+30°C), e estágio exclusivamente de barricas novas pequenas, acabou por deixar muitos vinhos pasteurizados, sem o seu caracter típico. Por isso, o que de fato impera é meio termo. Atualmente, respeitando as diferenças de estilo de cada produtor, tanto tradicionalistas, quanto modernistas utilizam técnicas similares. Seja no maior controle da temperatura e duração das fermentações alcoólica e malolática; até o uso combinado de barricas novas de 225l ou 550l, com grandi botti de rovere di Slavonia ou tanques de aço inóx. O que todos os produtores estão buscando são vinhos de grande personalidade, porém mais equilibrados e prontos para beber.
A leste de Barbaresco, na região dos grandes Moscato D´Asti, a bela vila de Castiglione Tinella.
Quando viajei para a Itália no mês de novembro pude conferir toda essa efervescência que o Piemonte está vivendo. Em resumo, o Langhe continua sendo a região vitivinícola que produz alguns dos melhores e mais originais vinhos da Itália e do mundo, porém o Piemonte reserva outros incríveis tesouros. Hoje, é possível encontrar vinhos fantásticos em lugares como Colli Tortonesi, Roero e Monferrato (ver mapa). Da mesma forma, as uvas também já não se restringem apenas a Nebbiolo, a Barbera, a Dolcetto, a Moscato e a Arneis. Produtores renomados estão trabalhando fortemente na valorização ou resgate de outras variedades autóctones como Albarossa, Brachetto, Timorasso, Nascetta, Cortese, Grignolino, Pelaverga, Prunent, Ruché entre outras. Não espere nada óbvio, são vinhos de personalidade única, que representam uma perfeita expressão do território.
Fantásticos representantes da Roero Arneis: Bricco delle Ciliegie e Malvirà Saglietto.
Não há como negar que a vocação do Piemonte são os aristocráticos vinhos tintos, contudo fiquei impressionado com o bom desempenho das variedades brancas. As globalizadas Chardonnay e Sauvignon Blanc podem ser encontradas, e produzem ótimos vinhos, mas o grande destaque são as uvas autóctones. Na margem esquerda do rio Tanaro, em solos predominantemente arenosos e ácidos, a qualidade dos vinhos Roero Arneis DOCG é indiscutível. Produtores como Azienda Malvirà dos irmãos Massimo e Roberto, Giovanne Almondo e Matteo Corregia estão fazendo um trabalho incrível com as castas brancas. Outro caso de sucesso, que inclusive já ganhou os tre bicchieri do Gambero Rosso, foi a Timorasso, uma uva branca originaria de Colli Tortonesi que passou anos esquecida e, recentemente, foi resgatada pelo talentoso viticultor Walter Massa. A Cortese, que dá origem aos delicados e refrescantes Gavi DOCG, está ganhando cada dia mais espaço, graças a um consórcio de nove produtores, conhecido como Golden Gavi.
Gavi: Vinhedo de Cortese da Azienda La Mesma das irmãs Paola, Francesca e Anna.
Claro, não poderíamos esquecer da queridinha da região, a Moscato. Essa uva que cobre grande parte das sweet hills do Langhe e Langa Astigiana é responsável por produzir o vinho com o maior volume de produção do Piemonte: o Asti DOCG. Ao passo que com as uvas selecionadas das melhores parcelas dos vinhedos, também é produzido o Moscato D’Asti DOCG, uma versão mais artesanal e de maior qualidade quando comparado ao Asti. Mas, se engana quem acha que essa região só produz vinhos brancos doces. A Alta Langa, uma das mais recentes DOCs, já aparece como uma região de destaque para a produção de espumantes secos de alta qualidade (método clássico). Os espumantes safrados produzidos pela vinícola boutique Giulio Cocchi, propriedade da familia Bava, confirmam o potencial dessa denominação.
Um dos tesouros do outono no Piemonte: Tartufo Bianco
E como vinho e gastronomia andam juntos na Itália, comer muito bem é uma regra em todo o Piemonte. Para se ter uma ideia de como a gastronomia é levada a sério pelos italianos, basta lembramos que o movimento Slow Food, foi criado pelos piemonteses, em Bra. Imagine combinar vinhos tão excepcionais, com ingredientes locais, frescos e de alta qualidade? Bem-vindo ao Piemonte! Sem falar, que o outono além de proporcionar paisagens com um belíssima gama de cores, ainda reserva deliciosas surpresas, como as superperfumadas trufas brancas
O inesquecível sabor e perfume da Carne Cruda all´Albese con Tartufo Bianco.
Na minha opinião, o Piemonte é a melhor região da Itália para se comer. A autenticidade dos pratos, garantida pela riqueza dos ingredientes e a valorização dos produtos locais, tornam as refeições piemontesas inesquecíveis. Em sua essência é uma cozinha muito simples, sem modernismos e pirotecnias, mas extremamente saborosa. Que tal começar com um café da manhã com mais de seis tipos de queijos? Tomas variadas como: Murazzano e Robiola di Rocaverano, além do clássico Castelmagno. Só de lembrar, é de dar água na boca! Os deliciosos Antipasti são um capítulo a parte, desde a tradicional Bagna Cauda e Vitello Tonnatto até a delicada Carne Cruda All’ Albese. As proximidades dos campos de Novara e Vercelli garante o melhor arroz para os risotos. As massas como o Ravioli e Tjarin al burro e salvia, assim como o Brasato al Barolo são outros clássicos da cozinha piemontesa.
Sem exageros de açúcar. Os tradicionais doces piemonteses: Panna Cotta e Bunet.
Se você gostou desse post, aguarde os próximos. Vou comentar em mais detalhes sobre as localidades que conheci, começando por Acqui Termi e Strevi. Também vou recomendar os vinhos que mais gostei de toda essa viagem, além da dar dicas imperdíveis de onde se hospedar e comer.
* Jackson Brustolin viajou para o Piemonte a convite de Paul Balke, expert em Piemonte e seus vinhos, autor do livro Piemonte Wine and Travel Atlas
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